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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Conto Catfight!:)....enviado

ANATI E NOEMIA:

                Negra de cabelos pretos enrodilhados, encaracolados. Andar de majestade, de seus antepassados orgulhosos. Suas roupas atestavam mais e mais sua estirpe de outros povos guerreiros. Na pia de batismo recebeu por nome Patrícia; mas seus pais também negros a chamavam de Anatí – mesmo não sendo (ou talvez sendo) de ascendência africana, acabou servindo como a uma luva.
                Assim nasceu Patrícia- Anate, seu corpo se avolumou, seus músculos apareceram, sua fisionomia, no entanto mudou pouco, continuaram aqueles olhos de lince, aqueles lábios grossos, o cabelo negro encaracolado. As ancas tornaram-se proeminentes, seus seios se moldaram em uma arquitetura que só o maior dos engenheiros poderia imaginar. |O gênio, os rompantes, a educação na hora certa sempre foram seus sinais característicos. Eram quatro os filhos do casal Amador e Guilhermina. Todos estudaram, formaram e caíram no mundo. Anatí permaneceu mais tempo ate que sua boa e generosa mãe criasse asas , virasse arvore. Seu pai também achou boa a hora de despedir – se de sua filha. Envelheceu ao lado de uma senhora tão boa quanto sua finada esposa.
                E foi assim que Anatí, formada em Medicina, com especialidade em medicina esportiva, deixou sua cidade e se embrenhou pelo mundo; abrindo á custo seu caminho em direção á Capital.
                Mas, por alguma razão estranha, acabou por fixar praça na região de Campinas.
                Não perdera contato com seus irmãos: um advogado, outra engenheira, um economista e outra Administração.
                Patrícia acabou arrumando um emprego em hospital na região de Campinas e de um clube de pouco nome em Paulinea.
                E foi ali que o sonho tantas vezes acalentado quase acabou destroçado.
                Como sempre acontece nestas situações, é impossível, improvável e quem sabe inevitável à existência de pessoas ciumentas, alcoviteiras, invejosas. Em toda a sua vida até aquele momento Anatí resolvera seus problemas com diplomacia- ou com os punhos quando os argumentos não resolvessem.
                E foi por isso que logo nos primeiros dias uma das instrutoras do clube resolve acabar com o sossego de Patrícia.
                A mulher era uma loira de seus um metro e oitenta e igual peso, arrogante, desafiadora e uma espécie de abelha rainha do lugar. Fosse lá pelo que tivesse acontecido, encasquetou com a negra Patrícia. Provocava-a de todos os meios e todos os momentos, procurava torpedear qualquer ideia da rival. Anatí mantinha a calma e tentava por todos os meios a diplomacia.
                Entretanto, a mulher não queria saber de conversa, queria porque queria que Patrícia acabasse despedida.
                Outros funcionários aguardavam para qualquer momento que uma das duas perdesse as estribeiras, e a resolução iria acabar em briga. Uns poucos falavam coisas sobre a mulher, que embora com todo o tipo de alemã tivesse o singelo nome de Noêmia.
                Já haviam se passado quatro meses desta guerra, até que em uma tarde Noêmia descobre Anatí nos vestiários. Invade rapidamente, fecha a porta e com dedo em riste, abrindo o zíper de seu abrigo de ginástica, começa:
                - Escuta aqui, macaca. Você não vai sujar o meu clube com outros de sua raça. Que fique claro- sua raça não devia ter direito de se misturar com nenhuma outra, e nem mesmo lançar mandingas ou feitiços para roubar nossos homens e mulheres, como fez uma com o meu pai.  E por ultimo, quero que peça demissão daqui, ou eu mesma vou te mandar de volta á África, em pedacinhos em um latão de graxa.
                Anatí viu-se em má situação. Noêmia também era forte e musculosa, e naquele momento parecia estar possuída por uma raiva divina. Mas como ela também não era de levar desaforo para casa, retrucou:

                - Escuta aqui, Noêmia. Se você quer transformar todo negro, mulato, escurinho, sarará ou qualquer outro nome que queira usar em um tipo de ladrão de mulheres e homens brancos, este é o seu problema – serio que eu até penso que deveria procurar ajuda- Não posso mudar aquilo que já aconteceu, e muito menos você. Mas, me ameaçar do jeito que esta me ameaçando agora, não vai procurar a policia, vou quebrar a sua cara, escolha dia e hora, convide quem você quiser. Então veremos quem vai quebrar quem.
                - Era isso que queria ouvir. Sexta feira depois que o time treinar, lá no ginásio. Eu vou levar o meu povo só para ver você pedir penico e dizer o quanto estou certa.
                - V[á pensando!]. Vá pensando!

                Aquela conversa tão aguardada acabou criando, durante a semana uma verdadeira “bolsa de apostas”, que ia se modificando conforme cada um falasse da vida de uma das mulheres. Os partidários de Noêmia falavam sobre a vida da garota problema, de que fora criada pela mãe até os seis anos quando houve o fim do casamento dos pais e a mãe ter passado a viver (e depois casar) com um negro, isso teria tornado a menina uma racista empedernida, e nem mesmo quando o pai se enamorou de uma passista de escola de samba a situação melhorou. A menina agora mulher - juntou-se aos punks e neonazistas durante alguns anos até decidir estudar Educação Física. E agora acabava por encontrar outra negra que inclusive ocupava o mesmo cargo que ela. Já, os partidários de Patrícia contavam além de sua vida particular, e das brigas que aquela Rainha Negra se envolvia com inúmeras vitórias (para dar maiores ares de veracidade, chegaram a inventar uma tribo em Moçambique de onde teriam vindo seus ancestrais).
                Eis que chegou o dia. As duas se cruzavam de quando em quando sem dirigir palavra. Tudo levava a crer em um verdadeiro massacre. Nem mesmo os jogadores quiseram deixar o clube.
                O cenário estava sendo armado com um tatame, uma área de proteção e algumas cadeiras.
                Patrícia e Noêmia olhavam aquela movimentação com um misto de medo e excitação. Olhavam-se como se estivessem na eminência de pularem no fígado da outra, mas aqueles olhares bem poderiam ser também alguma forma de mudo elogio.
                Noêmia se calava diante das insinuações que já se ouviam da plateia.
                Isso até o momento em que foram chamadas. Reconheceu um antigo namorado, um mulato alto e bem apessoado. Tremeu um pouco com aquilo, imaginou que diria Patrícia se soubesse daquilo. E mais, desistira do namorado, um cardiologista que trabalhava em vários hospitais da região, por pressão de amigos neonazistas.
                Por sorte ninguém notou a surpresa e Noêmia pode se recompor e continuar com toda a sua empáfia. “Vamos ver, macaca, se hoje mesmo não estarei de mandando em pedaços para A África”. “Você tem um corpo bonito, não nego, mas seu lugar devia ser na zona de onde tua mãe não devia ter tirado.”
                Patrícia parecia surdo ás provocações. Suportara este tipo de xingamento durante toda a sua vida, portanto era pouca coisa o que Noêmia falava. Noêmia caminhava para o tatame na esperança de que seu e namorado não a tivesse reconhecido.
                Finalmente chegara o momento, as duas sobre o tatame se estudavam. Parara as provocações , mas começavam as demonstrações  de força. Noêmia flexionava os músculos, girava seu corpo e examinava as cordas que foram ali colocadas. Patrícia fazia o mesmo.
                Mas toda aquela encenação teria de ter um fim, e foi quando Noêmia começou. Atacou Patrícia praticamente a atropelando até as cordas. Deu um soco no rosto, agarrando pelo pescoço jogou-a no centro do tatame. Patrícia estava deitada quando a rival tentou jogar-se sobre ela, mas Patrícia foi mais rápida e Noêmia caiu pesadamente com o joelho no chão. Patrícia encostada nas cordas, mais que depressa se preparou para acerta-la quando começasse a levantar. Uma joelhada  no rosto e Noêmia caiu de lado , Anatí pulou em cima dela, sentou-se em suas costas , segurou seus braços entre seu corpo  e suas coxas  e levantou a cabeça da adversária. A posição de |Noêmia estava bem em frente onde sentara Roberto (o e namorada) Noêmia agora tinha mais uma razão para derrotar a oponente. O momento era muito difícil, especialmente que Anatí notara aquele mulato bonito e elegante sentado na segunda fileira de cadeiras. Falou algo no ouvido da rival enquanto prendia também suas pernas. Noêmia não via outra saída não fosse Anatí levanta-la para joga-la contra as cordas. Noêmia respirou funda tentando procurar um pouco de ar, com isso conseguiu forças, quando Patrícia voltou á carga c Noêmia acertou-lhe um chute no rosto que recuou. Sentindo refeita, Noêmia voltou á provocação “Negrinha você é muito burra, como todos vocês são. Agora é a minha vez”. E pegando por um dos braços procurou puxa-la para si e com uma joelhada na barriga e um pescoção deixou a rival desorientada “Macaca. Se prepare para voltar para casa, para a Chita”. Anatí, segurando nas cordas virou de lado seu corpo para proteger do ataque. Suportou o choque e com um murro no estomago e um rabo de arraia derrubou a oponente. A rival não acreditou, nem mesmo quando foi levantada pela cabeça, levada até um dos corners e colocada no alto das cordas, Anatí subiu junto, envolveu o pescoço da adversária e jogou-se ao chão. Noêmia recebeu o golpe e pareceu desacordada. Patrícia perguntou se desistia e ela levantou o braço com o polegar tentando assentir.
                -Agora, garota, espero que tenha aprendido a lição. Se quiser é só falar, estarei pronta. Mas me parece e que tem um sujeito lindo que quer falar com você.
                Anatí levantou-a e entre abraços segredou:
                -Vá lá sua boba. Aproveite.

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