ISTO É ASSUNTO DE MULHER
Tarde quase noite, ou
noite quase manhã. O bar ainda estava aberto com quase todos os clientes de sempre:
alguns desgarrados poetaços de ocasião, dois ou três bêbados que não haviam desgrudado
de suas mesas desde o começo da noite. Um casal de executivo0s que pareciam
perdidos naquele lugar – bem capaz de terem acabado de virem de algum motel, ou
show na cidade e procuravam desculpas para falar mais tarde. A um canto,
protegidas de olhares inquisidores, duas mulheres conversavam. Uma delas era
amorenada, cabelos encaracolados não muito longos, saia preta colada ao corpo
delineando uma bela musculatura; as suas mãos passavam languidamente pelos
loiros cabelos de outra mulher um pouco mais franzina, um rosto de boneca de
porcelana, lábios finos e pequenos como se sempre estivessem á espera de algum
beijo. A outra aproximava o rosto do ouvido da mais franzina e com a mão descia
por seu corpo delgado e desejável da outra garota. A língua quase saindo da boca procurando as
voltas da orelha de sua acompanhante.
Foi quando ouviram o
indiscutível barulho de uma freada. Todos esperavam a consequência da freada –
ou uma batida contra um poste ou contra outro carro. - mas não aconteceu nada , só a batida violenta de uma porta .
Minutos depois, aparece na
porta do bar uma mulher alta, loira, - vestida com o que se poderia chamar de roupa
padrão das executivas - um corpo escultural, e com ares desafiadores (braços e
mãos postas á altura da cintura, pernas tão abertas quanto permitia a justa
saia que vestia). Sequer dando tempo para qualquer outra reação, foi logo falando;
ou diria quase gritando.
- Juliana. Muito bonito. Você facilita e olha você de novo em um antro
igual à daquele que eu te tirei. E ainda por cima junto de gente desqualificada
como esta dona, ou seja lá o nome que você
pretende dar. Levante e vá logo para casa, á noite conversamos.
A outra mulher levantou-se, e
com altura próxima desta recém-chegada (que deveria ter por perto de um metro e
oitenta), olhou-a com desdém.
- Escuta aqui, mocinha. Sua
garota não é mais sua. Ela veio para mim como todas voltam. Eu sei dar o amor
que elas querem, não só viagens, um apartamento nos Jardins, carro e bons
contatos. Ela me contou que você viaja muito e não dá o devido cuidado para
ela. Por isso ela voltou para o nosso covil.
- Juliana, você ouviu? Não sei onde estou que não lhe parto as
fuças.
- Não seja por isso, patricinha
de merda, anabolizada. Sabe que muitas garotas não gostam do tipo de mulher
igual á você. Mas se quiser, pode cair dentro e vamos ver quem pode mais. Não
me importo de quebrar sua cara e destruir estas roupas tão estereotipadas.
- Não. Aqui não. Tenho coisas á fazer, mas se
ainda quiser me enfrentar, vá á este endereço lá pelas dez da noite de hoje. Lá
me sentirei mais á vontade para quebrar a sua cara e de passagem alguns ossos.
- Tudo bem, mas vou levar a
minha nova conquista. Ela vai ver a garota fitness cross fit ser destruída pela
putana desclassificada. – e virando para
Juliana, continuou- Meu doce, você vai ver quanto a sua ex-namorada vai chorar
de dor.
Juliana engoliu em seco, os homens do bar pararam
para ouvir aquela discussão, querendo saber onde haveria a tal luta.
As duas responderam como se
estivessem ensaiadas:
- Quanto á vocês, isso é
assunto de mulher.
Na hora marcada, as mulheres
chegaram Juliana, de braços dados com a sua mais nova namorada (ou se quiser
protetora). A outra mulher ju-a as aguardava na varanda de uma casa um tanto
abandonada, térrea, com portas e janelas fechadas em uma rua de um bairro não
muito distante de onde tudo havia começado.
A desafiada começou a falar.
- Pelo menos, patricinha, me
diga seu nome, quem sabe assim possa falar para os enfermeiros que vierem te
pegar. Pelo que vejo não mora nos jardins? Ou aquilo é só para abater incautas
como a Juliana.
- Pois não. Não sem antes me
diga o seu, porque, não quero aleijar ninguém que não conheça ao menos o nome.
Não aqui é onde eu quebro outras mulheres que tentam roubar as minhas namoradas.
E me chamo Ileana- o sobrenome aqui é o
de menos.
- Concordo. O meu é Astrid, de
sobrenome ignorado. Agora terminados estes rapapés, vamos à luta, estou louca
para enfiar minhas mãos nas suas carnes.
- E eu também. Pode ter certeza.
Uma vez naca, as duas tiraram as
roupas, se olharam entre espantadas, excitadas e preocupadas. Afinal eram duas
mulheres jovens e fortes, capazes realmente de causar lesões em qualquer uma.
Astrid
começou estudando Ileana, que andava em círculos sobre um tosco tatame. Ambas pretendiam
testar a força e a resistência uma da outra, mas foi Ingrid quem primeiro
atacou com dois socos no rosto da rival (““““ ““ ““ ““ Não te avisei que só
luto sujo”? Que pena “) Ileana sentiu e recuou. Ingrid sentiu pronta para novo ataque, agora com os pés ,
que foram seguros por Ileana, que com um
movimento rápido acertou a cabeça de
Ingrid com um chute na cara. Ingrid recuou, mas fechando a mão tentou acertar um soco no rosto da rival ,
que acabou no ar. Ileana atingira a
barriga de sua oponente e outro nos
peitos, uma gravata, e Astrid
caiu com a cara no chão do tatame.
Ileana subiu em suas costas com os pés e com a rival deitada, deu um chute no rosto. Astrid sentiu
o chute mas fez força para se levantar ,
Ileana então a levantou, segurou
a cabeça da rival e preparou o soco.
Juliana gritou:
_ Ileana , eu volto para você ,
mas não faça mais nada com ela .
-Esta bem, mas ela não venha
mais nos incomodar. Vamos para casa.
As duas saíram abraçadas após
se vestirem. Juliana ainda sorriu para Astrid, enigmaticamente.
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