UMA FANTASIA REALIZADA
Sabia que era bonita, conhecia os olhares dos homens quando passava. Adorava olhar-se no espelho de casa e do banheiro, mesmo ainda molhada ou levemente úmida. Deliciava-se em passar suas mãos pelo seu corpo, fazer aquela viagem de sensações gozosas, sentir aquela falta de ar, prazeres tão estranhos quanto viciantes. De seus seios opulentos, dos mamilos excitados ao mero toque; do gel que passava por todo o corpo, daquele corpo moldado por academias, coxas grossas, torneadas de tanto andar, correr, jogar. O que mais a excitava era aquele percurso lento compassado pela sua barriga retinha, para acabar naquele amontoado de pelos entre suas pernas e adentrar por aquela caverna seca que em pouco tempo umedeceria. Tudo para acabar naquele calor gostoso. Depois, refeita, satisfeita, retornar aquela vida de advogada em um grande escritório. Passaria o resto do dia entre clientes, petições, fórum, conversas, reuniões, um almoço de negócios com homens que não paravam de olhar seus atributos. Do mesmo modo, ela sabia da ciumeira que havia entre as secretárias e a colega do escritório, por conta de seu corpo escultural, mistura bem dosada de ascendentes alemães, italianos e franceses (além da sempre presença de nossa contribuição racial). (Sua vida sexual poderia ser considerada normal para os padrões da sua classe social – ou seja, não importava em ter namorados ou namoradas). E nunca se cansara deste tipo de experiência.
Sim. Ultimamente sentia uma espécie de vazio existencial. Por mais que procurasse razões ou motivos não conseguia descobrir. Sua vida estava cimentada, era reconhecida pelos colegas, juízes, desembargadores, ganhava bom dinheiro – o que permitia viajar pela América, Europa e Ásia. Adquirira um belo apartamento na cidade, uma casa de praia e um pouso na serra. Sua vida sentimental também e
Estava tranquila; não pretendia casar, adotar crianças, cachorros ou gatos. Queria sua vida calma com seus casos ocasionais , e detestava cenas de ciúmes .
Mas alguma coisa estava faltando.
Não sabia, mas lentamente vinha a idéia de viver com mais perigos. Tudo parecia tão esperado, planejado que aquilo que esperava era o inesperado. Imaginava estar sendo assaltada, de estar já beirada de um prédio pronta para se jogar no vazio; ou então enfrentar no mano-a-mano um bandido , um tarado ou outra mulher , em algum lugar bem sórdido , tão comum em historias de mistério .
Bem que poderia ser isso o que ela esperava e queria. Bastaria chegar o dia. Tinha certeza que este dia chegaria.
E o dia chegou!
Para ser mais exato foi uma noite. Uma balada de final de outono sairá com algumas amigas para gozar a noite. Estacionaram seus automóveis, arrumaram-se e estavam próximas á entrada da boate quando tiveram suas atenções focadas em outro lugar, um muro quebrado permitia que vissem o que acontecia no terreno vizinho: duas mulheres brigavam. As amigas olharam aquilo com certo nojo, como se aquilo fosse a DEFINITIVA DECADÊNCIA. Carla avisou que entraria logo depois.
Carla estava completamente hipnotizada por aqueles corpos, com roupas rasgadas, esmurrando e rolando pelo chão. Havia descoberto aquilo que faltava. Decidiu assistir a briga até o final e falaria com a vencedora.
Terminada a briga, Carla aproximou-se da vencedora.
- Puxa, nunca havia visto isso. Você deu uma lição nela. Mas olhe que a outra também era bem forte.
- Mas não para mim, dona. Igual á ela já bati em muitas. Trabalho nesta casa vizinha. Mas porque isso? Gosta de luta de mulheres, ou gosta de mulheres se esfregando? É uma destas ricaças excêntricas? Ou outra coisa?
- Diria que é outra coisa.
- Vamos com calma, senhora. Não sou puta e nem gosto de mulher.
-Não é isso, senhorita...
- Pode me chamar de Anna por enquanto. Desembucha logo, tenho de voltar ao trabalho.
- Anna, você lutaria com uma mulher por dinheiro?
- Dona, você me viu quase quebrar aquela mulher por que ela quis sair da casa sem pagar o consumo. Faço isso todas as noites. Ganho pouco, mas até gosto um pouco. Agora, se tiver dinheiro, então. Quem será a coitada? Alguma rival?
- Não. Simplesmente você lutaria comigo.
- Você? Tem certeza? Não quero ter de deixar marcas entes seu rosto bonito. E tem de saber que quando eu começo me empolgo, e talvez você não goste.
- E que tal R$ 15 000,00.
- Tudo isso?! A senhora deve estar louca, mas o corpo é seu. Fechado.
-Onde e quando?
- Se quiser amanhã às dez da noite neste endereço. - falou enquanto estendia um pedaço de papel .
- A senhora me pagará independente do resultado?
- Sim. Se você ganhar pagarei R$15000; se eu ganhar você recebe R$ 10 000. Topa?
-O dinheiro é seu, mas claro que eu topo.
- Então até amanhã ás 22.
Dez horas da noite. Anna chegou e encontrou Carla já a esperando. Acompanhou-a até uma sala iluminada, Alguns tapetes como um tatame, e cordas em volta, como se fosse um ringue.
- Você pensou em tudo. Como sabia que eu já lutei em ringues?
- Pesquisei um pouco, e pensei que uma mulher que fez aquilo ontem deveria ter lutado antes. Mas agora os preparativos. Vamos tirar as roupas. Prefere usar um biquíni?
- Sim, se não for demais.
- Eu também gosto. Agora vamos lá.
As duas se olharam. Tinham praticamente a mesma altura e peso. Carla parecia mais musculosa. Anna tinha músculos mais bem moldados, mas mesmo assim a luta seria difícil.
- Deveria ter pedido mais.
- Agora é tarde, ou como diziam os romanos, PACTA SUNT SERVANDA OU os contratos devem ser cumpridos.
Entraram no ringue. Anna ficou estudando a rival enquanto a outra queria começar logo. Atacou-a levando ao corner, Socou o estomago, jogou-a ao centro do tablado. Anna ficou desconcertada, aquela patricinha era forte e ágil, bem capaz de derrota-la. Mas ela estava pronta. Levantou-se rapidamente e atacou sua oponente em um teste de força. Carla foi ajoelhando, quando Anna a atingiu com o joelho, levantou-a, levou ao corner colocando-a na ultima corda, subiu junto, prendeu-a com seus b braços e se jogaram no chão. Carla sentiu, Anna subiu em cima de suas costas e tentou segurar as pernas de Carla na tentativa de imobiliza-la. Carla, em um rápido movimento, tirando-a de cima de suas costas, levantou-se. Quando Anna tentava levantar Carla acertou dos chutes no rosto da rival e depois levou-a de novo ao corner, colocou-a atravessada na segunda corda, e subindo até a terceira caiu sobre a barriga da Anna, que desabou. Carla segurou a cabeça de Anna que desistiu.
- Quer mais? Quer outra?
- Agora não, talvez outro dia. Agora quero os meus R$ 10 000.
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