ZULU E MAYSA
Quase sempre as mesmas horas elas chegavam. Durante dia claro , deixavam que aquelas sem mais o viço de outrora , ou um corpo que já fora bonito e desejável , passeassem pelo parque , que dessem a sua volta no quarteirão , à procura de exaustos ou incautos homens que se dispensavam a passar alguns momentos com elas , em quartos pequenos de hotelecos quase aos pedaços. Eram conhecidos e reconhecidos. Adotavam, nomes de guerra, alcunhas para tentar esconder sua vida dura que já haviam passado , e talvez por alguns momentos voltassem a sentir um pouco da fantasia de serem outra vez jovens. A esperança que algum destes homens esquecessem de suas imperfeiçoes físicas e suas idades . Ficavam por ali – os donos das padarias ali perto , ou dos restaurantes quase vazios cediam um pouco de comida “ pelos bons tempos “ - . Entre elas ocorriam ocasionais rusgas, mas poucas , ou quase nenhuma chegaram ás vias de fato. Mesmo porque eram constantemente vigiadas por guardas educados que por ali passavam.
Mas , mal a tarde se esvaia, e antes mesmo que o céu tingisse de amarelo, estas mulheres se retiravam, como se fosse resultado de algum acordo tácito entre elas .
Eram as moças mais novas que chegavam.
A longa viagem de volta para seus lares começava, algumas pagavam aos porteiros ou mesmo os donos daqueles hotelecos ( que em tempo idos eram chamados de H.O. ) para ficarem mais uma noite ou uma semana.
Mas , agora aproximavam mulheres de saia curta e justa , de meia blusa ou meia camiseta, com pernas bonitas mostrando pedaços de suas coxas aos desejados homens que por ali, com certeza passariam .Seus colos sempre eram vistosos, desejados. Rostos sempre jovens ( muito embora algumas estivessem até maquiadas em demasia . Eram loiras , negras , morenas , mulatas e até orientais (acreditem). Conversavam, fumavam, bebiam em garrafas pequenas compradas sabe-se lá onde . Futricas , mal ditos, ou grandes promessas de amor poderiam ser ouvidas, cochichavam , reclamavam que o movimento era ´pequeno mesmo que a noite mal começara . Conhecedoras de artes amorosas , ficavam meio nas penumbra, só permitindo o olhar furtivo para suas pernas ou para o colo de seus seios , ou até seus rostos.. Ainda era cedo , elas sabiam. Os escritórios estariam terminando seus expedientes, alguns executivos ainda passariam um tempo em happy hours por aí, e antes que voltassem para seus lares e para o recato de suas famílias (ou solitariamente para algum apartamento vazio), elas sabiam que eles as procurariam para a realização de suas mais estranhas e inconfessáveis fantasias.
Pois é aqui que realmente começa nossa história:
Já se aproximava a meia noite, poucas daquelas mulheres haviam feito seus programas. Aceitavam até aqueles que chegavam em taxis, Uber, ou em automóveis seminovos .
Mas nenhum como aquele aquele que se aproximava mais lentamente , como se estivesse “ procurando a dama do cabaré “. Era um auto esporte vermelho , capota arriada mesmo naquele quase madrugada que ia esfriando . Logo virou conversa daquelas mulheres , tentando adivinhar a quem o homem chamaria .
Ouviam-se “ só pode ser eu, sei como cuidar bem de um homem ou mesmo um nobre cavalheiro “ “ Não, amiga, ele deve estar atrás de uma como a Lucília,. Aquela tem o diabo no corpo, vai cansar o homem logo, logo, e então ele vai voltar e escolher outra, eu conheço o tipo “
E era um tal de aprumar-se, de realçar seus visíveis atributos, abrindo mais o decote, levantando mais a saia ou, as mais atiradas, ficando quase nua.
Mas, o carro passou por elas um pouco mais lentamente e continuou o caminho .
“ Não sabe o que está perdendo, cachorrão “ – falava uma delas. “ Tem medo de uma mulher de verdade “ –retrucava outra. “ Bicha “, só pode ser “ bicha “, olhou só para ver se encontrava um molecote. Como não encontrou, foi bater em outro lugar “.
Em muito pouco tempo os comentários foram cedendo, sumindo, enquanto voltavam à caça.
Nenhuma delas havia notado no motorista do automóvel vermelho, que parecia olhar para o grupo, da esquina.
Passadas mais meia hora o carro vermelho voltou a passar. Mas agora parecia que tinha um objeto preciso em meio aquelas garotas.
Parou e fez um rápido sinal para a loira de pernas perfeitas e bermuda.
- Entre, moça. Você não irá se arrepender.
- Não entro em carro de qualquer um fique sabendo. Gostaria de saber o que está pretendendo. Vou avisando que sei muito bem me defender. Já pus muitos marmanjos e mulheres para correr.
- Moça, parece que fiz a escolha certa. Fique você sabendo que está sua raiva e coragem pode te trazer muito mais dinheiro do que aquele que você pode retirar deste “ trutua- dentro de mais um pouco talvez terá uma das experiências novas e que poderá mudar sua vida .
Ela deu uma rápida olhada para as outras mulheres, pensou um pouco e entrou no carro.
Era um carro confortável e o motorista não era de se jogar fora: de meia idade, corpo proporcionado de quem costuma se exercitar um tanto, um sorriso cativante e possíveis olhos verdes. Rodaram por um tempo entre ruas conhecidas ou não. O homem não parava de falar sobre sua vida, seus dois casamentos e seus quatro filhos (“ aqueles imprestáveis. Este é um dos motivos que estou fazendo estas loucuras “. Apresentava como Antenor Paranhos Pessoa Braga . (Com um nome destes deveria ser mais rico – pensou a moça). Chamou atenção quando ele comentou sobre loucuras e experiências diferentes.
De uns tempos para cá, minha pequena, - falava Antenor - tenho experimentado algumas atividades que parecem até que me rejuveneceram. Sabe, tenho rodado pelas cidades que tenho de visitar atrás de alguma mulher bonita, alta, forte que não tenham medo do que a vida oferece. Mas isso você saberá dentro em breve. Você pode ganhar muito mais do que receberia por sabe lá quantos programas.
Agora chegavam em uma rua pequena, casas com aspecto de abandonadas, poucas arvores. Parecia longe de tudo.
A conversa foi diminuindo até parar completamente. Entram em uma espécie de pátio; talvez de alguma fábrica desativada. Havia uma placa: “ Aqui em breve, mais um empreendimento imobiliário de alto luxo das empresas Pessoa Barros. ”
- Chegamos, garota. Ainda não sei o seu nome.
- Pode me chamar de Maysa.
_ Nome bonito, de uma cantora excepcional. Gostava muito dela, mas meus compromissos impediram que a conhecesse pessoalmente. Mas, agora chegou o momento de saber qual é a experiência que te falei. Depois, se não quiser, não ficarei decepcionado, mas tenho certeza que irá aceitar.
Entravam agora naquilo que deveria ter sido o chão da fábrica – estranhamente muito limpo. - Abandonado, mas no que poderia ser considerado o centro do salão, um tatame, e containers fechados que talvez viesse a ser utilizado pelos futuros operários do empreendimento.
- Escute aqui agora, garota. Escolhi você porque vi seu potencial para vencer da campeã de um dos meus amigos.
- Então estou aqui para lutar com alguém que eu ainda não conheço e vence-la. Pensei que teríamos uma noite de sexo gostoso.
- Vamos esperar a luta, depois, garanto que você poderá descansar no meu apê.
- Você quer dizer, se eu vencer.
- Nada disso. Prometo que depois da luta te levo ao meu apartamento e a “ luta “ vai ser lá.
Um outro senhor de meia idade e trajado de forma mais descompromissada aproximou-se dos dois .
- -Antenor, meu velho. Espero que desta vez tenha trazido alguém capaz de ao menos empatar com a Rainha, mesmo porque, até agora nenhuma das suas garotas a derrotou.
- Espere e verá. A moça que eu trouxe vai fazer em pedaços a sua lutadora.
- A nossa aposta ainda está de pé, certo.
- Sem dúvida. Agora vamos aos negócios.
Pouco tempo depois, em um dos containers Maysa viu de relance a sua adversária, e engoliu forte.
Se ouviu uma voz
- Que Entre as lutadoras.
As duas surgiram por detrás de dois biombos. Maysa ainda parece não estar entendendo muito bem onde está se metendo. Defender-se por se defender ela até entendia, mas aquilo era muito estranho. Por algumas vezes lutara com mulheres por dinheiro – confessou mais tarde que até gostou daquilo – agora só restava continuar., e se vencesse aquela mulher ao seu lado, ou perder de pouco.
Falar “daquilo ao seu lado “ poderia parecer desrespeitoso. Ela era uma mulher morena, de mesmo tamanho e peso do que ela, a rival parecia mais forte, com boa musculatura musculosa nos braços, coxas grossas, peitos que mal cabiam em seu biquíni. O rosto era ainda mais ameaçador, no entanto cabia um pouco de docilidade.
- Senhoras E senhores. Hoje apresentaremos mais um espetáculo de luta livre feminina. Infelizmente não pudemos contar com quatro lutadoras; deste modo passemos a luta principal. E, garanto que não irão se desapontar. Sem mais delongas, de um lado temos a grande vencedora de dezoito lutas e quatro derrotas, a grande campeã A RAINHA ZULU. Que irá enfrentar a novata Maysa. Será um combate de dois rounds – podendo ter mais um se alguma delas ainda estiver de pé - contamos com duas mulheres para cada uma pode auxiliar nos intervalos. Então, moças, se estiverem prontas. LUTEM.
Como disse, Maysa já enfrentara outras mulheres – várias ela até venceu- mas a mulher à sua frente era algo que sequer em sonhos ou pesadelos chegara a ver.
Neste momento Zulu atacou, arrancou a parte de cima do biquíni da sua rival, envolvia o pescoço de Maysa com seu braço musculoso. Maysa estava atônita, não contava que a Zulu fosse começar assim. Quem sabe seu corpo não estivesse assim tão preparado. Mas teria de resistir, mesmo que fosse por pouco tempo. Zulu deve ter achado que a luta já estava ganha ou que aquela mulher não valia sua especialidade, mas, como estava ali- e aqui valia sua fama e dinheiro também – sabe-se lá como, mas Maysa consegue levantar-se a muito custo. Para Zulu, que já achava vencedora, a ação de Maysa conseguindo levantar-se causou um certo espanto, Ali estava uma garota que até poderia receber um certo respeito. Mas, não iria ser por isso que não deveria vence-la e em grande estilo. Vendo que Maysa estava em pé e saltitando com seus seios nus, Zulu levantou os braços para talvez mostrar mais acintosamente o tamanho de seus músculos e também desafiar a um teste de força e resistência e ameaçando (Escuta aqui, moça. Não vai ser nenhuma novata como você que irá sujar a minha fama. Agora você irá sofrer), e assim falando avançou e a abraçou na altura da barriga fazendo força para levanta-la um ´pouco do chão. Maysa consegue a certas penas acertar um soco na altura dos olhos da rival, causando dor e a soltando. (ISSO NÂO VALE) Zulu, já um pouco afastada, preparou-se para avançar sobre sua oponente, que com a rapidez de um toureiro saiu da frente indo a rival bater em uma das paredes do galpão. Vendo a oponente tentando se levantar, pulou em seu peito fazendo ela recuar. Antes que Zulu se recuperasse , Maysa pegou pelos cabelos e levando-a até o tatame jogou-a no chão , caindo ruidosamente em cima dela . Agora parecia ser sua chance. Por cima das costas da Zulu colocou seus braços nas axilas de Zulu que estava demorando a concatenar as ideias; poucas e raras vezes não demorara mais do que um round para vencer suas adversárias, esta novata estava demonstrando que não se entregaria facilmente. Estava na hora de começar a usar seus golpes não muito convencionais, mas na sua situação atual e com a rival sentada em cima de suas costas a situação estava cada vez mais delicada. Estava começando a pensar até em desistir. Não fosse a força de suas pernas e a resistência e com elasticidade (até mesmo ela não conhecera), forçou seus joelhos no chão do tatame e lentamente foi tentando levantar-se. Agora era a vez de Maysa não acreditar no que via e sentindo. Com os joelhos fixos no chão, os braços presos agora não pareciam mais tão importantes. Zulu continuou forçando mais até conseguir se levantar. Maysa perdeu o equilíbrio e Zulu pulou em cima das costas da oponente, e com seus músculos e mãos consegue prender as pernas de Maysa e começa a soca- lá. Agora é Maysa que começa a ver a derrota pela frente, que havia sido uma má ideia ter entrado naquele carro e chegado até aqui. Sentindo perder suas forças, até que ouviu o gongo encerrando o assalto.
Zulu soltou sua PRESA. Estava vendo que a ideia de uma rápida vitória estava acabando mais cedo do que pensara. Lutara várias vezes e acabara a maioria dos combates no primeiro assalto; mas agora estava indo para outro assalto. Poucas vezes havia tido esta experiência, e a sua oponente, muito embora cansada parecia ser capaz de lutar mais este round (“ mas este há de ser o último “ – resmungou Zulu Zulu ). Rápido as duas estavam em seus cantos. Outras mulheres correram á massageá-las, abanar aqueles corpos majestosos e obviamente cansados . As duas, mesmo assim se olhavam com ganas de começarem logo. As que ficavam ao lado de Zulu, tentavam dar ânimo enquanto passavam as toalhas em seu corpo ( “isso é sorte de principiante. Você é a melhor. Sempre se lembre da luta contra aquela tal de Gladiadora. É só não ir com muita sede ao pote, vá com calma no começo e depois pode estraçalha - lá).
Do outro lado, Maysa recebia a agua, as toalhas, os abanos e as massagens nos seus ombros e peitos. (Moça, você foi muito bem como poucas que lutaram com ela. Só que agora, a Zulu deve estar com fogo nos olhos, tome cidade no começo, canse ela mais um pouco, e você vai vencer).
O gongo voltou a soar.
As duas agora começaram mais prudentes, haviam conhecido e reconhecido a força, a resistência uma da outra, circulavam em volta uma da outra sem perder o foco, tentavam agora segurar os braços uma da outra, e assim permaneceram por uns dois minutos. Agora Zulu parecia possuída por alguma raiva divina , ela mesma arranca a parte superior do maio da adversária. Aqueles peitos agora pareciam armas apontadas para a adversária. Maysa, antevendo o que a outra pretendia atacou e chutou por entre as coxas da Zulu, que se curvando gritava isso não vale, sua... não vale não, Maysa não deveria estar ouvindo vez que com a rival deitada, ela subiu sobre a barriga da adversária, praticamente deitando sobre ela começando a socar os peitos, enquanto tentava prender as pernas. Mas a dor que sentira Zulu não a havia nocauteado, rápida livrou-se da rival sobre ela e com uma direita fez a rival parar com os socos e rolou para o lado. Zulu levantasse rapidamente achegou-se á Maysa , e , segurando-a pelos cabelos , levantou-a dizendo quase em um sussurro você é boa e esta resistindo bem, mas , infelizmente chegou a minha vez , estando a poucos centimetros um da outra , Zulu deu uma gravata na rival e a colocou em suas costas , quase gritando falou “espere garota , seu fim está perto , deixou-se cair para tras com Maysa ainda em suas costas , soltou-a e olhando para a pequena plateia , levantou seus braços forçando os músculos dos braços , e quando voltou os olhos para onde estaria sua rival, esta já estava em pé.
E foi nesta hora que mais uma vez o gongo suou.
Zulu não acreditava no que via e no fato que poucas vezes havia sido obrigada a lutar mais um round.
Se notava o quanto aqueles dois assaltos haviam custado ás valorosas lutadoras . Maysa contava com um certo cansaço maior da parte da Zulu, mas esta não queria dar o braço a torcer, mesmo também estando cansada, tanto que, tão logo o assalto começou ela passou a dar pequenos pulos, a bater os punhos em seu peito e com as mãos chamar Maysa para a luta. Não demorou muito para que a Zulu atacasse. Maysa sentiu o golpe e um tanto grogue quase não conseguia identificar de onde viera aquele ataque. Zulu agora sentia mais perto da vitória, e com um chute na barriga da rival a jogou para fora do tatame. Foi até lá para trazer Maysa e novamente segurando-a pelos cabelos, e falando ao s ouvidos de Maysa querida, acho que está na hora de você começar a cantar Meu mundo caiu, e assim falando, jogou-a no centro do tatame. Todos que até ali assistiam, -e se excitavam- já estavam dando mais uma vitória para a Zulu. Ela mesma já sentia que sua vitória estava próxima. Mas mesmo que a luta parecesse perdida Maysa viu Zulu achegando-se á ela, abatida e com o rosto voltado de onde Zulu se aproximava e que agora com a planta dos pés tentava subir sobre a barriga da rival, mas esta consegue agarrar a perna de sua oponente e a derruba. Maysa consegue subir em cima das costas da adversária e começa a forçar a abertura das pernas da Zulu, enquanto coloca seus braços em torno do pescoço da sua oponente. Zulu tenta forçar suas pernas enquanto tenta se livrar dos braços de Maysa em seu pescoço. Maysa passa a apertar cada vez mais. Passa algum tempo, e Maysa segura a rival e a levanta até um pouco acima de sua cabeça, consegue circular um pouco com aquela mulher segura pelos seus braços, e deixa que ela caia ao chão, não sem antes conseguir dar uma joelhada no rosto da Zulu. Antes que o gongo soe novamente, todos já notaram que a Zulu perdera a luta. Estava realmente nocauteada.
-Minha campeã. - Falou o homem que a trouxera- a. – Acho que ainda não entendeu, você derrotou fragorosamente a grande Zulu. Seu nome vai correr todos os lugares onde fazem estas lutas meio clandestinas.
- Se é assim, meu caro. Proponho que me pague uns R$ 100 000, por cada empate, R$ 50 000,00 por cada possível derrota e talvez uns R$ 140 000,00 por cada vitória. E não tem discussão. A Zulu merece um prêmio, e um emprego de sparing.
- Faço tudo o que você quiser.
- Me arranje companhia para esta noite, só para começar.
M. GROTIUS junho 2023.
Nenhum comentário :
Postar um comentário